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28/04/2023

Hospitais privados dizem que não vão pagar novo piso da enfermagem

Diante do cenário de ressalvas do piso da enfermagem, entidades patronais da saúde afirmam ao Poder360 que hospitais privados não adotarão o novo piso de enfermagem, baseados na liminar concedida pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso. A decisão, tomada mediante ação movida pela CNSaúde (Confederação Nacional da Saúde), suspende os efeitos da lei nº 14.434/2022, que define o reajuste.

O argumento usado pelas instituições de saúde é o de que não há recursos para arcar com o aumento dos salários e os gastos poderiam levar a demissões em massa, queda na qualidade do serviço, ao fechamento de leitos e até à falência de hospitais de pequeno porte. A decisão de Barroso, com justificativas similares, mantém a suspensão até que os impactos financeiros no setor público e privado sejam esclarecidos.

A ação possui dois caminhos: seguir com a decisão cautelar, de suspensão do pagamento, surtindo efeitos ou a perda do objeto, caso o Supremo seja acionado e entenda que o PLN cessa as queixas dos envolvidos. Outras instituições pediram para ingressar no processo.

Na última 4ª feira (26.abr.2023), foi aprovado o PLN (Projeto de Lei do Congresso Nacional) do piso da enfermagem, que libera R$7,3 bilhões para o pagamento do reajuste na rede pública. Segundo Marcos Vinicius Ottoni, diretor jurídico da CNSaúde, o aporte não influencia na validade da liminar. “Estamos confiantes. A gente espera que ele [Barroso] mantenha [a liminar]”, diz ao Poder360. O PLN é voltado ao SUS (Sistema Único de Saúde), a entidades filantrópicas e a prestadores privados de serviços com um mínimo de atendimento de 60% de pacientes do SUS.

Para Ottoni, nenhuma das questões citadas por Barroso na liminar foram solucionadas com a liberação de verba pelo governo. “Na verdade, nem o financiamento público está resolvido. Eles conseguiram fonte orçamentária, mas é temporário. Estamos muito confiantes [com a permanência da liminar] porque estão resolvendo só uma parte do problema”, defende.

Ottoni também argumenta que a CNSaúde continua levantando informações sobre o impacto do reajuste no setor privado. A nova pesquisa ainda é preliminar e será enviada em breve ao STF para que conste no autos da ação e reforce a necessidade da liminar. Requisitadas pelo jornal digital, as informações, segundo o gestor, serão liberadas a público depois de serem anexadas ao processo.

Também ao Poder360, Antônio Britto, diretor executivo da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), explica que o reajuste foi um “grande erro de avaliação do governo porque não apontava fontes de financiamento e punha em risco o emprego e a assistência dos hospitais”. Segundo ele, o PLN “não mudou absolutamente nada na situação dos hospitais privados”, já que a liminar desobriga empresas do setor de saúde de pagar o piso atual.

 

PREOCUPAÇÃO DO SETOR PRIVADO

Um estudo preparado pela LCA Consultoria para a FBH (Federação Brasileira de Hospitais) e divulgado em janeiro deste ano indica que as entidades privadas teriam que demitir 164.966 pessoas para compensar o impacto que o piso salarial causaria. Isso equivale a 12,8% dos postos de trabalho na área. Do total, mais de 79.000 desligamentos ocorreriam em negócios de saúde privados. Eis a íntegra do estudo (PDF – 775 Kb).

A pesquisa também mostra que o reajuste afetará 887,5 mil vínculos –ou seja, 69% do total– que hoje se encontram abaixo do piso. O impacto maior será sentido na região Nordeste, que concentra 261 mil trabalhadores e tem, em média, os salários mais baixos do país. Nessa região, 84% dos vínculos têm remuneração abaixo do piso estabelecido.

Em nota conjunta, entidades ligadas a empresas de saúde manifestaram sua preocupação. “Não é possível o setor privado arcar, da noite para o dia e sem fontes de custeio, com reajustes de quase 100%, como ocorrerá nos estados da Paraíba com aumentos de 99,8%, no Maranhão com aumentos de 89,4% e no Amapá com aumentos de 88,4%”, afirmam. Eis a íntegra da nota (PDF – 448 Kb).

Ainda segundo a nota das instituições, “é urgente, portanto, que o Poder Executivo e o Congresso Nacional estabeleçam as fontes de custeio para o setor privado, enfrentem o problema das diferenças regionais de capacidade de pagamento pelo país, bem como equacione outros graves problemas do marco legal do piso de enfermagem. Sem isso a lei permanecerá inconstitucional”.

 

ENTENDA O CASO

O PLN repassa R$ 7,3 bilhões para o Ministério da Saúde. O montante deverá ser usado por entidades públicas para pagar o piso salarial de R$ 4.750 para enfermeiros, R$ 3.325 para técnicos em enfermagem e R$ 2.375 para os auxiliares de enfermagem e parteiras.

A lei 14.434, que define o piso, foi sancionada em 2022. Contudo, em setembro do mesmo ano, o ministro Barroso, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu a aplicação do piso de enfermagem sob justificativa de riscos de impactos financeiros nos cofres públicos, demissões de funcionários e possível piora na qualidade do serviço prestado. A decisão foi referendada posteriormente pelos demais ministros no plenário virtual da Corte.

Em declarações recentes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o setor privado não precisaria de ajuda financeira para executar o piso salarial, mas associações de hospitais discordam e argumentam que isso levaria a demissões e fechamentos de hospitais.

“O que eu quero dizer é que primeiro as redes hospitalares privadas podem pagar. Quem é que tem dificuldade de pagar? As Santas Casas. A gente vai criar um subsídio para financiar o pagamento ou uma parte do pagamento para as Santas Casas”, afirmou o petista em declaração feita em março.

Segundo Ottoni, a aprovação do piso, mesmo com o PLN, ainda possui brechas. “O mais grave é: como vai fazer a distribuição dos recursos? Como [os recursos] vão chegar aos estados e municípios? Sem contar que o Supremo ainda está analisando como se calcula o piso, em que base ele vai incidir”, diz.

Para ele, é preciso pensar em soluções possíveis para que a aplicação do piso seja viável. O gestor acrescenta que “uma das saídas pode ser a desoneração da folha de pagamento”.

 

Fonte: https://www.poder360.com.br/brasil/hospitais-privados-dizem-que-nao-vao-pagar-novo-piso-da-enfermagem/

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