Uma pesquisa nacional inédita sobre o comportamento digital do médico, realizada pelo Research Center, núcleo de pesquisa da Afya, apontou que um número expressivo desses profissionais — e seus respectivos consultórios — já fazem uso de ferramentas digitais em suas atividades. Os dados mostram que 77% utilizam prontuário eletrônico e softwares de gestão do consultório, 68% usam ferramentas de suporte à decisão, 67,5% trabalham com prescrição digital e 54% fazem telemedicina.
O levantamento foi realizado entre agosto e setembro de 2022 com 1.064 médicos especialistas de consultórios e clínicas. Eduardo Moura, médico, co-fundador da PEBMED e diretor de pesquisa do Research Center, aponta que, por ser a primeira edição da pesquisa, não há como traçar uma linha evolutiva, mas “conseguimos ver pelos números que o médico de consultório vem demonstrando engajamento e adesão às ferramentas digitais”.
Mais de 50% da amostra se formou há mais de 20 anos (21% de 21 a 30 anos e 30,6% acima de 30 anos), o que indica também que a utilização de ferramentas digitais ocorre mesmo por profissionais com mais tempo de mercado e não apenas nas gerações mais novas — Moura aponta, entretanto, que foi possível ver uma tendência de que “quanto mais jovem o médico, mais digitalizado ele é”. Neste sentido, ele também constatou que a maioria dos médicos que estão abrindo consultório já começa com alto nível de digitalização.
O estudo explorou ainda a questão da atualização da médica e mostrou que 82% dos entrevistados possuem uma rotina semanal de pelo menos 5,5 horas para se dedicar a novas informações. Os três principais canais de atualização apontados foram congressos e eventos médicos (73,3%), cursos online (65%) e artigos científicos (61,8%).
O percentual de maior destaque em relação às ferramentas digitais foi o uso de prontuários eletrônicos pelos médicos, um segmento pulverizado, como aponta o diretor de pesquisa do Research Center: “O mercado de prontuários eletrônicos sempre teve essa característica de ser extremamente pulverizado. Existem muitas soluções disponíveis para o médico e embora a nossa própria, que é o iClinic, seja líder de mercado, ela não lidera por muito. […] É uma característica desse mercado, teve muita gente olhando para isso e criando soluções, mas como todo o mercado, deve haver uma tendência a médio prazo de consolidação em poucos players”.
Quanto às ferramentas dedicadas ao suporte da decisão médica, Moura reforça que “é interessante notar que a maioria dessas ferramentas de suporte à decisão tem um nível de qualidade bem alto”. Além disso, ele explica que esse padrão de qualidade das ferramentas é superior a conteúdos de atualização “não digitais”, como alguns materiais sobre medicação divulgados pela indústria farmacêutica, e conteúdos online de baixa certificação divulgados via mídias sociais ou aplicativos de podcast. Nesse sentido, “há um reconhecimento que as ferramentas de suporte à decisão têm um nível de qualidade superior a essas fontes alternativas e são comparáveis também aos artigos científicos, que seriam o padrão ouro em termos de referência”.
Em relação às plataformas de prescrição, a pesquisa da Afya indicou que mais de 2/3 dos médicos já usam a versão eletrônica. Diferente do mercado de prontuários eletrônicos, Eduardo Moura analisa que, nesse caso, há um líder de mercado bem consolidado a frente dos demais, mas que há um aparecimento e crescimento de outros players.
Sobre as teleconsultas, Moura indicou que não havia uma expectativa de que esse percentual se aproximasse dos números de prontuário eletrônico, por exemplo: “A maior parte das consultas médicas continua sendo presencial, só que a teleconsulta tem sido bastante utilizada para consultas de retorno e para o acompanhamento de pacientes crônico em que o médico já conhece bem o quadro”. Na visão dele, há uma maior margem para crescimento nas teleconsultas e que é onde pode haver uma mudança mais drástica em pesquisas posteriores.
Fonte: https://futurodasaude.com.br/pesquisa-afya-ferramentas-digitais/